Em desenvolvimento de software, o termo TDD — Test Driven Development — é bastante conhecido e sua aplicação já está bem consolidada.

O termo nasceu em meados de 1990, pelo criador da Programação extrema, Kent Beck.

Atualmente esta prática é um dos principais meios de se manter uma aplicação saudável. Os testes diminuem muito — não extinguem — os riscos de quebrar a aplicação.

E será que é possível aplicar TDD em um pipeline de dados? É o que vamos ver a seguir. Já adianto que sim, é totalmente possível.

Primeiramente, o que é TDD?

Test Driven Development, ou em tradução livre, Desenvolvimento Guiado por Testes é uma estratégia de programação que consiste em criar situações ou respostas previamente conhecidas antes de desenvolver a aplicação em si.

De forma bem simplificada, para garantir que uma função saiba somar corretamente, criamos situações como:

  • Se a função receber 2 e 3 como argumentos, deve retornar 5;
  • Se a função receber 1, 2 e 3 como argumentos, deve retornar 6.

Ao invés de entrar de vez no desenvolvimento da aplicação, você cria cenários que testam o que ainda vai ser desenvolvido. Através de classes, métodos e/ou funções.

E como seria TDD em um PIPELINE de Dados?

Antes de tudo, seria bom saber o porquê aplicarmos TDD na engenharia de dados.

A motivação original de se desenvolver primeiro o cenário e depois a solução em si é composta por 3 pontos, os quais considero como principais:

  1. Sua função — ou classe — irá fazer APENAS o que for necessário para passar no teste. Tornando o código mais limpo e sem excesso de código inútil;
  2. Automatização de testes que são executados de forma muito mais rápida que qualquer humano;
  3. Evita que novas funcionalidades quebrem o que já estava funcionando.

Agora imagine um pipeline de dados, onde informações são extraídas das mais diversas formas, passam por uma série de processos que tratam e depois os inserem em uma base de destino.

Não sei você, mas todo o fluxo, quanto mais complexo, mais traz uma fragilidade intrínseca. Se no meio do caminho, qualquer coisa falhar, pode causar um enorme estrago no processo todo.

Lembra um pouco a Teoria do Caos e da célebre frase de Edward Lorenz:

“o bater das asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um furacão no Texas!”.

Se uma das fontes de dados alterar a sua estrutura, pode acabar derrubando todo o fluxo, ou gerar resultados totalmente inesperados.

Então, para amenizar estes riscos, nada melhor do que utilizar uma estratégia já consolidada no mundo de desenvolvimento de software…https://operar.io/media/19c7128e5394209ed77b923fdd33dcc1

E como aplicar TDD com dados?

Leia a afirmação a seguir, vai entender onde quero chegar…

  • Quando estamos para criar uma classe/função, testamos se com os parâmetros que ela recebe, retorna o resultado esperado.

O negrito nas palavras —classe/função, parâmetros e resultado — é proposital.

Mudando para dados, ficaria assim:

  • Quando estamos para criar uma etapa do processo, testamos se com os dados que ela recebe, se ela retorna a estrutura esperada.

Ou seja, cada etapa é avaliada se retorna a estrutura esperada, tendo como entrada uma outra estrutura. Percebe que o termo “ambiente controlado” se encaixa perfeitamente aqui?

E o que podemos colocar em cada estrutura de entrada?

Para quem está acostumado(a) com TDD, conhece muito bem os corner cases.

Corner Cases em dados

Corner Case — ou Casos de “canto” — se refere a situações “limites” que seus testes devem cobrir.

Voltando ao começo, no exemplo da nossa função que deve somar, quais seriam os casos limites?

Alguns exemplos:

  • Se receber apenas um número, deve retornar ele mesmo;
  • Deve conseguir processar qualquer número de entrada, somar 1, 2, 3… números;
  • Se receber um número negativo, deve retornar o resultado correto;
  • Se receber 0 como entrada, o resultado não deve ser afetado.

A primeira etapa para o desenvolvimento é a criação das situações limites que a função deve receber.

Com dados, é mais ou menos a mesma coisa. Basta pensar qual tipo de corner case pode ter em uma estrutura de dados.

Vejamos alguns exemplos:

  • Se a fonte for um arquivo csv, a etapa deve reconhecer o separador de colunas — como vírgula, ponto e vírgula e tabulação;
  • No mesmo arquivo csv, a etapa deve reconhecer corretamente o tipo de cada coluna, se é de inteiros, strings, booleanos, etc.;
  • A possibilidade de receber um csv vazio;
  • Se for um formato json, com diferentes tipos de chaves além das de interesse do processo;
  • Um formato json, com a ausência de uma ou mais chaves de interesse;
  • Retorno de uma API com erros de autorização, timeout, etc.

Percebem que as possibilidades são muitas? Pois é, e quanto mais seu pipeline estiver preparado para lidar com cada uma destas situações, mais robusto ele será. Quanto maior a cobertura de possibilidades, menor o risco de quebrar o fluxo.

Simplicidade, esta é a palavra-chave

Quem já ouviu falar sobre kiss?

Não, não é beijo em inglês e nem a banda de rock novaiorquina.

Kiss é a sigla para “Keep it simple, stupid!”

Traduzindo, com o perdão da ofensa, “Deixe isso simples, idiota!”.

Trazendo para os nossos dados, quer dizer, deixe cada situação prevista nos corner cases a mais simples possível.

Não é preciso criar um csv com 1000 linhas para descrever uma estrutura esperada.

Quanto menor a estrutura esperada, seja ela um csv, json ou xml de uma API, melhor. Mais fácil de analisar, mais fácil de fazer uma possível manutenção no futuro. O único critério é que a estrutura descreva corretamente o que a etapa pode receber como input de dados.

Conclusão

Hoje, com o aumento de dados disponíveis que influenciam a tomada de decisão de qualquer negócio, é possível criar fluxogramas para a extração, tratamento e leitura destes dados com muito mais facilidade que a anos atrás.

No entanto, este processo é complexo e que pode ser facilmente interrompido quando qualquer etapa neste meio se quebra. É determinante que cada etapa seja coberta por testes que assegurem o comportamento esperado, a fim de não fragilizar o sistema como um todo.

Espero que vocês tenham gostado, qualquer dúvida, deixe nos comentários abaixo.

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